Sociólogo italiano Renzo Grosselli fará palestra na Câmara neste sábado (28)

Estudioso dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil e autor de vários livros, Grosselli fará palestra na Câmara de Santa Teresa sobre os 40 anos de pesquisa que desenvolve sobre comunidades italianas. Nessa reportagem ele fala da polêmica sobre qual foi a primeira cidade de colonização italiana no Brasil: Santa Teresa ou São João Batista, em Santa Catarina?

 

“Eu digo que, com certeza, aqui no Brasil tem de 500 mil a um milhão de brasileiros que possuem muito mais que uma gota de sangue trentino. Se os ‘nonnos’ são quatro, eu digo que mais de 500 pessoas têm pelo menos um ‘nonno’ trentino, especialmente no Sul do Brasil”.

Quem assim calcula é o escritor, historiador e sociólogo italiano Renzo Maria Grosselli, autor de ‘Vincere o Morire’, entre outros livros sobre a saga trentina no Brasil, e que se encontra em solo brasileiro para uma série de palestras sob o patrocínio da “Associazione Trentini nel Mondo”.

Ele, que começou por Nova Trento-SC no dia 7 de abril, esteve em Bento Gonçalves-RS e em Rio dos Cedros-SC, em Santa Olímpia (Piracicaba-SC); e nesta quinta (26) estará em Vitória para uma conferência sobre seus 40 anos de pesquisa em comunidades italianas pelo Brasil. O evento acontece no Arquivo Público do ES.

No sábado, dia 28, o sociólogo estará na Câmara Municipal, em Santa Teresa, que foi definida por lei como a primeira cidade fundada pela imigração italiana no Brasil, título que está sendo contestado pela comunidade italiana de Santa Catarina, que registra em São João Batista, em 1836, o primeiro núcleo de imigrantes provenientes das terras itálicas. Sobre isso, o historiador emitiu sua opinião.

“Como historiador posso dizer que os primeiros italianos – a primeira comitiva ou grupo -, de pessoas que poderiam se chamar de italianos, porque eles faziam parte do reino da Sardenha que foi o primeiro pinguinho de Itália que, depois, desenvolveu-se em Itália após as lutas do Risorgimento italiano, foram as pessoas lígures – Gênova é a maior cidade, capital da Ligúria – que chegaram no atual município de São João Batista”, disse.

Lembrando um pouco de fatos históricos, Grosselli expôs: “Há quem diga que os trentinos que chegaram em fevereiro de 1874, no Espírito Santo, não eram italianos e tinham passaporte austríaco. Tem gente que diz que não é verdade, então, que eles foram os primeiros italianos que chegaram no Brasil. Acho que isso não é tão importante, mas já que isso foi estabelecido numa lei, era bom esclarecer e vou dizer rapidamente o que penso: não eram italianos os genoveses, que pertenciam ao Reino da Sardenha; não eram italianos de passaporte os tiroleses italianos que chegaram em Santa Teresa, porque tinham o passaporte austríaco”, polemizou.

Entretanto, assegurou: “para mim, eram, sim, italianos os genoveses do interior que chegaram aqui (camponeses eram também eles, e não pescadores) porque faziam parte de um pedacinho de onde começou a Itália; e eram também italianos de cultura os tiroleses italianos que chegaram no Espírito Santo em fevereiro de 1874, com o navio La Sofia”, pormenorizou.

“Então, quais foram os primeiros?” – perguntou, para responder: “A chegar no chão brasileiro, os primeiros foram aqueles que hoje vivem espalhados no Brasil mas formaram a “Colônia Itália” (bairro hoje conhecido como “Colônia” e que quer voltar a se chamar “Colônia Nova Itália”). Mas eu digo, sustento e estou certo que os primeiros italianos de cultura italiana, de fala e de origem italiana, os primeiros colonos de cultura italiana que chegaram no Brasil durante a grande imigração da terra Itália para o mundo (entre 27 e 29 milhões de pessoas entre 1870 a 1970), os primeiros da grande imigração foram os 388 camponeses, onde a esmagadora maioria, acho que perto de 350, era de tiroleses italianos, e umas 40 ou 50, poucas famílias, eram vênetos. Estes foram os primeiros dentro da grande imigração”.

O escritor ressalvou: “Eu não vou julgar se a lei aprovada pelo Congresso e assinada por Temer está certa, ou não está certa. Agora, se vai sair uma outra lei que diga que os primeiros italianos que aportaram aqui em grupo compacto como imigrantes no Brasil foram as pessoas que chegaram em 1836 na “Colônia Nova Itália” eu assinaria também. As duas leis podem conviver”.

Mantendo coerência na ambiguidade, arrematou: “Na grande imigração italiana, os primeiros que chegaram foram os trentinos – eu poderia ficar falando horas sobre isso – porque eu digo que eles eram tiroleses italianos. Eu quero dizer que eles eram trentinos – naquele tempo não existia a palavra trentino, era Tirol ou Italiano meridional. Mas eles eram os meus avós. Então eu posso dizer que eram tiroleses italianos”. “Todos nós – finalizou – somos filhos da mesma cultura ancestral”, finalizou.

Além das palestras, em que expõe informações históricas sobre a imigração trentina no Brasil, sua cultura e aspectos políticos da realidade trentina e italiana da atualidade, Grosselli está aproveitando para colher dados para seu novo livro, que já tem título: “Gli Ultimi”(Os Últimos) – uma série de entrevistas com casais idosos descendentes diretos de imigrantes nas comunidades preponderantemente trentinas do Brasil.

Renzo é nascido em Trento em 12 de janeiro de 1952, formado em sociologia pela Universidade de Trento, Itália em 1976. Em 1998 obteve o título de doutor em pesquisa histórica pela PUC – Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre-RS. De 1983 a 1991 morou no Brasil, nos Estados de Santa Catarina, Espírito Santo, Paraná e São Paulo, pesquisando junto a arquivos públicos de Estado, das Cúrias Episcopais, municipais e também privados. Suas pesquisas também foram desenvolvidas nos Estados do Rio de Janeiro (antigo arquivo do Itamarati) e Minas Gerais.

 

Informações: Revista Insieme

 

 

Data de Publicação: quinta-feira, 26 de abril de 2018